O planeta Terra cada vez mais nos dá provas que necessita de ajuda, e existem muitos aspetos que podemos ter em conta.
O planeta Terra cada vez mais nos dá provas que necessita de ajuda, e existem muitos aspetos que podemos ter em conta para tentar atenuar os danos já causados – e evitar o aparecimento de novos. Fazer reciclagem, usar menos plástico (ou simplesmente substituí-lo por outro material), comer menos carne, mais legumes e apostar em alimentos de produção biológica e sustentável são alguns dos exemplos que podemos começar já a fazer. Hoje falamos na água e no seu uso nos vários produtos de cosmética.
Embora quase 70% do mundo seja coberto por água, apenas 2,5% dela é doce. É por isso muito provável que a escassez de água se torne um dos problemas ambientais e económicos mais sérios do mundo. Estima-se que em 2025, cerca de 1,8 biliões de pessoas viverão em áreas afetadas pela escassez de água, com dois terços da população mundial vivendo mesmo em regiões com escassez de água.
Segundo um estudo feito pela World Resourses Institute, Portugal encontra-se entre os 44 países que esgotam, pelo menos, 40% das suas reservas de água. Isto coloca o país numa situação de risco elevado de escassez de água. Portugal ocupa o 6º lugar do ranking mundial da Pegada da Água, entre 151 países, com 2.260 m³/pessoa/ano – o equivalente ao conteúdo duma piscina olímpica.
Este é provavelmente um termo que ainda não entrou no seu léxico, mas que muito em breve irá invadir as prateleiras de cosmética um pouco por todo o mundo. Mas o que significa beleza Waterless? Tal como o nome indica, são cosméticos e produtos que não possuem água na sua formulação, ou que apresentam um conteúdo de água mínimo, apresentando uma forma mais compacta, concentrada e ecológica.
Assim, com esta tendência a ganhar força, a pergunta é: por que deveríamos de comprar produtos de beleza sem água?
A água é um bem essencial e um dos ingredientes mais comuns de encontrar em produtos de cosmética. É muito frequente ser usada como solvente ou como meio de melhorar a consistência de um produto. Basta adicionar um pouco de água num produto, que confere logo uma textura mais macia e maleável.
No entanto, a água é frequentemente usada como “enchimento” porque ainda é o recurso mais barato. O problema reside no facto do produto se tornar assim um terreno fértil para a proliferação de germes e bactérias. É por isso que ter a água como principal ingrediente de beleza tem várias desvantagens: a necessidade de conservantes, emulsionantes, aditivos antibacterianos e menos espaço para ingredientes ativos e benéficos para a nossa pele.
A água geralmente é o ingrediente com maior percentagem na maioria dos cremes, loções, tónicos, pastas de dentes e leites de limpeza. Experimente pegar no seu creme hidratante e faça o teste. Se o primeiro ingrediente da lista for ‘aqua’, “water”, “eau”, “água”, significa que é o ingrediente com maior quantidade no produto. A questão do uso da água e das quantidades de água doce utilizadas está no centro de marcas como a Unii, ou a Lamazuna terem começado a desenvolver cosméticos sólidos e à base de óleo.
Os formatos sólidos de champôs, amaciadores, ceras e cremes reduzem a quantidade de água e são formulados com óleos altamente concentrados, que oferecem resultados maravilhosos.
Utilizar pastas de dentes com óleo e sem água, ou elixires de óleo são também exemplos de como é possível ter eficácia sem gastar recursos hídricos.
Pense connosco: ao adicionar água à formulação, a eficácia geral do produto é reduzida. Quanto menos eficaz, maior a necessidade de consumo (por exemplo, enquanto que num óleo puro necessitamos de duas ou três gotas, num produto diluído, necessitamos de muito mais quantidade). Quanto mais o consome, mais embalagem é necessária, o que irá criar mais poluição ambiental.
Tudo o que é fabricado tem uma pegada hídrica embutida no seu ciclo de vida que vai além do que está na embalagem. Isso inclui tudo, desde a produção de ingredientes até a embalagem, passando pela fábrica, transporte, uso e (com sorte) reciclagem.
Outra maneira de reduzir a água nas formulações é usar materiais reciclados, ou resíduos de outros fluxos de fabricação que, de outra forma, iriam para aterros. Uma barra de sabão de 100 gramas fará o mesmo trabalho que uma garrafa de 500 ml de gel de banho, mas requer muito menos embalagem (plástica), espaço/ peso para transportar e emissões de carbono, além de usar menos água na própria fórmula.
Por último, temos ainda a questão da biodegradabilidade dos ingredientes de todas as formulações cosméticas. Independente do tipo de embalagem, de nada serve comprarmos um champô sólido a granel, mas com ingredientes sintéticos que vão perdurar no ambiente aquático, nos solos e mar durante milhões de anos porque não se conseguem degradar.
O desafio que enfrentamos agora, à medida que avançamos para o futuro, é como conservar, gerir e distribuir com eficácia a água que o planeta dispõe. E é nesta luta pela sua saúde, que existem muitas marcas que estão empenhadas em usar menos água no processo de produção. Pode parecer um gesto demasiado “banal”, mas que faz uma grande diferença no final da história.
Ainda não existe a solução mágica para resolver a crise global de escassez de água, mas atuar nas três frentes – formulações, embalagens e hábitos de consumo – pode causar uma grande redução deste problema, que afeta todos nós.