No dia da Grávida, relembramos que nem todas as mulheres vivem este momento da mesma forma, daí a máxima importância do seu bem-estar. Algumas mães sentem-se sempre maravilhosamente bem, enquanto outras aceitam com dificuldade as transformações físicas e psicológicas inevitáveis.
Para clarificar e desmistificar este tema, estivemos à conversa com três peritas na área, que nos deram não só uma perspectiva profissional, mas também pessoal: a Margarida Roque Pereira (MRP), especialista no empoderamento feminino e maternidade, a Mariana Rosa (MR), responsável pelo programa Aquamãe do Estoril Wellness Center e a Catarina Gaspar (CG), doula de coração e por vocação, desde 2014.
O: Margarida e Catarina, gravidez é sinónimo de nove meses de emoção. Conseguem transmitir as emoções que sentiram desde o momento que souberam que estavam grávidas?
MRP: A gravidez é um momento de transformação e como tal, envolve prazer, dor, conforto e desconforto. Sensações de liberdade e contacto com bloqueios internos.
A minha gravidez não foi planeada e por isso, quando a descobri, o aborto foi uma opção. De facto, o abraço entre a morte e o (re)nascimento estão presentes em todas as transformações da Vida. O teste positivo foi o primeiro confronto com a morte – não porque tenha avançado com a interrupção da gravidez, mas porque me refugiei e rendi à perda de uma identidade, uma pele e uma Vida tal como a conhecia.
CG: Felicidade, paz, entusiasmo, medo, tristeza. Uma montanha russa de emoções, na verdade. As emoções que consideramos mais confortáveis ou positivas na maior parte da gravidez e as mais desconfortáveis como o medo e a tristeza, pontualmente.
O: Mantiveram algum cuidado especial durante gravidez? Juntando a Mariana à conversa, quais os cuidados que consideram cruciais para promover a saúde e o bem-estar nos períodos pré e pós-parto?
MRP: Sim, a prática de Yoga e a terapia Rebirthing. Cuidar do corpo, através do relaxamento e da amplitude dos movimentos, apoiou o processo emocional de me abrir a uma nova realidade, distante daquela que tinha idealizado, mas surpreendentemente reveladora nos lugares com que me presenteou.
Ser acolhida por uma doula e por uma terapeuta tornou o processo bastante mais seguro, permitindo-me ir a qualquer lado onde a vida me guiasse – abrindo portas internas e curando traumas, rumo à harmonização com a verdade, consciência e amor.
CG: Sim. Tive sempre cuidado com a alimentação, continuei as práticas de Yoga que fazia (e dei aulas inclusive), mantive prática de exercício físico frequente (para mim 30 minutos era suficiente para me sentir bem, com energia e vitalidade) e tive apoio emocional e informativo por parte de Doulas.
MR: Uma alimentação nutritiva, a prática regular de exercício físico adaptado e uma boa dose de repouso/sono serão cruciais para prevenir ou aliviar muitos dos sintomas mais indesejados associados à gravidez, para deixar fluir uma boa dose de hormonas que nos permitem vincular ao bebé e ter um parto mais natural e, no final, passar por um pós-parto mais suave.
Somos uma geração de mulheres sedentárias e o corpo para gerar, carregar e parir um bebé precisa de mobilidade, flexibilidade, força e consciência corporal. Escolher uma prática que dê prazer à mulher e que seja adaptada à gravidez (ex. yoga, pilates, exercício aquático, caminhadas, dança, …) deveria ser considerada tão importante como tomar os suplementos de vitaminas. São várias formas de se conectarem com o seu corpo, de o preparem para o parto, de manterem bons níveis de energia e auto-confiança e de garantirem um bom aporte de hormonas de bem-estar, para si e para o bebé.
Depois, atuarmos na prevenção também poderá fazer a diferença no nosso bem-estar. A mulher poderá optar por serviços como a fisioterapia pélvica, a osteopatia, a medicina tradicional chinesa, as massagens, a psicoterapia, entre outros. É também um período de grande vulnerabilidade e o apoio emocional pode vir de um profissional especializado, de uma Doula, de uma amiga próxima, de um grupo de mães que conheça. Uma boa conversa ajuda-nos sempre a validar o que sentimos.
Por último, ter informação irá dar à grávida a confiança para tomar decisões mais conscientes em relação ao parto, com base na evidência mais atual. Preparar o seu pós-parto, nas suas várias dimensões, de forma a estar mais disponível para cuidar de si e do bebé poderá fazer a diferença. Falta só acrescentar que é uma boa altura da nossa vida para abrandar, meditar, rodearmo-nos das pessoas de quem gostamos, fazermos o que nos dá prazer, para podermos dar depois também o melhor de nós.
O: De que forma as rotinas diárias e o ritmo de vida poderão sofrer alterações?
MRP: A gravidez foi uma grande escola de desenvolvimento pessoal, na qual mantive um ritmo consistente. Entre yoga, terapia, hipnose de parto, cursos de preparação para o parto e parentalidade, o tempo que restou levou-me à escrita, à meditação e ao contato com a Natureza. Por um período, refugiei-me numa comunidade em plena Serra da Arrábida, em regime de voluntariado e retiro pessoal de integração da nova realidade.
CG: Escolhi sempre respeitar as necessidades do meu corpo (físico e não só , naturalmente). Comecei a reduzir os horários de trabalho, a priorizar o descanso, a fazer mais pausas no dia-a-dia e a desfrutar do momento o melhor que podia.
MR: A gravidez é uma oportunidade de ouro para parar, para olhar a nossa vida em perspectiva e fazer um balanço, para conseguir fechar um ciclo e abrir outro, para ter tempo para sentir e nos deslumbrarmos com o milagre que acontece.
“Gravidez não é doença”, mas é um estado absoluto de vulnerabilidade, concebido para que a mulher se possa desligar por uns momentos do mundo e se possa ligar ao que acontece dentro de si. É uma montanha-russa hormonal, em que se vão alternando dias de extremo cansaço e mau estar, com dias de uma enorme energia e vontade de criar algo. Quando o corpo pede para abrandar, provavelmente estará imerso em relaxina e sentirá sono, dores, falta de iniciativa e precisará que a mulher acolha esta necessidade e a respeite. É tempo para fazer mais pausas ao longo do dia, para o corpo ser respeitado. O seu metabolismo precisa de se dividir e esta é também uma estratégia da natureza para que o bebé fique protegido. Estas fases poderão surgir às 12, às 20 e às 36 semanas. Depois existem fases da gravidez em que se sente energia, vitalidade, força, vontade de mudar, que estão associados a picos de oxitocina, que são verdadeiras oportunidades para levar a cabo novos projetos, fazer exercício e namorar. Ocorrem às 16, 30 e 40 semanas.
O: Notaram alguma diferença no cabelo e na pele? Mariana, na sua perspectiva, qual a importância de um bom tratamento de pele e cabelo na gravidez?
MRP: Sim, durante a gravidez, a minha pele esteve mais suave que nunca, sem que precisasse de um grande acréscimo de cuidados. Há uma tendência para a queda de cabelo, principalmente no pós-parto, mas penso que não foi o meu caso.
CG: Sim, principalmente no cabelo. Senti-o mais forte e brilhante. Na pele, não me recordo.
MR: Um cuidado especial à pele e ao cabelo poderão prevenir alterações permanentes na sua integridade. Não esquecendo que estes órgãos também se cuidam de dentro para fora e dependem de uma boa hidratação, sono e alimentação.
O: Para finalizar… Algum conselho que achem essencial partilhar para as futuras e recém mamãs?
MRP: Reconheçam a vossa rede de apoio (familiares, amigos e profissionais) e recordem-se que é preciso uma aldeia – não só para educar uma criança, mas para ver florescer uma mãe.
CG: Vivam a gravidez como a fase especial e única que é. Lembrem-se que o útero é a primeira escola dos vossos bebes. O que aprendem no útero, fica para toda a vida. A forma como cuidam de vocês e se priorizam é algo fundamental a ser passado aos bebés .
MR: Não vivam esta fase da vida isoladas. Procurem um grupo de mulheres que estejam a passar pela mesma fase, que tornem mais fácil e compreendidas estas vivências. Aproveitar para conhecer melhor o seu corpo que muda tanto quanto a nossa vida e aprender a amá-lo, por trazer nele gravado a história de tudo o que já vivemos. E procurar ajuda, para que esta fase seja vivida com prazer, porque todas as mulheres merecem sentir-se especiais.